A Questão Negra, Com Base Em Algumas Narrativas De Raça, Racismo, Relações Étnico-raciais E De Classe, Focalizadas Nos Aspectos Ideológicos, Políticos E Em Diferentes Contextos Da Realidade Brasileira, Constitui O Objeto-tema Deste Livro. Um Tema Fundante Da Sociedade Brasileira Que Perpassa Os Primórdios Da Formação Do Estado, Assentado Na Escravidão, No Latifúndio E Na Monocultura, E Se Estende Aos Dias De Hoje Num Quadro De Extrema Desigualdade Sociorracial, Perfazendo Um Total De Quase Quatro Séculos De Escravidão E Um Pouco Mais De Um Centenário De Uma Abolição Formal. Trata-se, Portanto, De Uma Questão Democrática A Ser Resolvida, Tendo Em Vista A Necessidade De Acesso Às Políticas Sociais Básicas Para O Conjunto Da População, E Uma Questão Nacional, Que Vai Muito Além De Interesses De Grupos Específicos. Um Tema Que Mantém Os Nexos Com A Estrutura Social E Econômica Do País Ancorada No Processo De Acumulação De Capital Para A Europa, Dominação Das Classes Dirigentes A Serviço Também Do Capital Financeiro E Manutenção De Privilégios Da Oligarquia Agrária E Burguesia Nacional À Custa Da Superexploração, Opressão E Humilhação Dos Povos Originários E Traficados Da África. Todos Esses Aspectos Fazem Com Que A Questão Negra Seja Um Tema Recorrente Em Diversos Contextos Históricos, Tendo Diversas Interpretações E Debates, Bem Como Esteja Presente Nos Dias De Hoje Em Pautas Das Agendas Das Políticas Públicas E Ações Afirmativas De Diversos Governos, Seja Para Propor Medidas Compensatórias, Trazendo À Tona O Debate Acerca Dos Direitos Humanos, Justiça Distributiva, Identidades E Desigualdades, Seja Para Negar A Sua Existência, Obviamente Para Atacar, Excluir Os Trabalhadores E Isentar O Estado E Governos De Qualquer Responsabilidade. Neste Livro, Resultado Da Tese De Doutoramento Em Políticas Públicas, Apresentaremos Um Estudo Acerca Das Particularidades Do Estado Brasileiro E Seus Desdobramentos Sobre A Questão Racial No Contexto Histórico E Atual. Para Isto Revisitamos Os Clássicos Da Intelectualidade Brasileira E Suas Interpretações Sobre O Tema, As Mediações Que Estabeleceram Entre Desenvolvimento Econômico Do País E Formação Étnico-racial. Cumpre Destacar Que O Entendimento Dessa Estreita Relação É Comum Entre A Maioria Dos Intelectuais Pesquisados, De Forma Que O Entendimento Sobre O Que Consideram Como Atraso Econômico Do País É Resultado Do Tipo De Colonização, Da Escravidão E Do Capitalismo Dependente Que Foram Aqui Desenvolvidos. Nessa Ordem, Alguns Desses Intelectuais Não Conseguiram Captar Esse Movimento, Atribuindo A Causa Desse Atraso Aos Negros E Nações Indígenas Por Conta Da Sua Cultura E Seu Modo De Vida, Vistos Como Entraves Ao Desenvolvimento Econômico. Observamos Que Poucas Foram As Análises Acerca Do Papel Histórico Que Cumpriu A Burguesia Neste País, Sua Política De Manutenção Da Ordem E De Seus Privilégios, Aliando-se Aos Setores Internacionais Com Função Subserviente, Capaz De Qualquer Negociata Em Favor De Seus Interesses. Parte Da Intelectualidade Brasileira É Produto Dessa Elite, Daí Resulta Seu Compromisso Social Com Sua Classe, Buscando Narrativas De Interpretação De Nação, Desenvolvimento Econômico E População Brasileira Com Base No Que Consideram Atraso Cultural E Econômico Dos Povos Formadores Do País. Buscam, Assim, Dar Resposta Moral Para Questões De Cunho Econômico E Político E Por Conseguinte Criam Estereótipos Negativos E Deformam Os Povos Indígenas E A População Negra, Quer Como Sujeitos Produtivos Econômica E Culturalmente, Dotados De Experiências Civilizatórias, Quer Como Sujeitos Políticos.